sábado, 17 de março de 2012

Florbela | Da dor que nos faz sentir a vida.

Realizado por Vicente Alves do Ó, “Florbela” apresenta-nos a vida de Florbela Espanca (Dalila do Carmo), a poetisa portuguesa que quis «amar, amar, perdidamente». O filme faz-nos viajar até ao momento em que Florbela deixa o seu segundo marido, António Guimarães (José Neves), e volta a casar com Mário Lage (Albano Jerónimo).
Apeles Espanca (Ivo Canelas), o irmão, surge como o grande amor da sua vida, o pilar, o tecto, a janela, a porta da alma de Florbela; uma alma perdida a loucura de viver e o tormento. Tormento esse que se adensa após a morte de Apeles, num trágico acidente com um hidroavião, no rio Tejo.
«Escreve, Florbela» – é uma das frases que se ouve mais durante o filme. Um imperativo categórico que Florbela só consegue cumprir após um «apelo» do irmão, já morto. Na fronteira entre o sonho e a realidade, Florbela pega no lápis e começa a escrever. Não resiste à terceira tentativa de suicídio e aos trinta e seis anos abandona este mundo.
Florbela (ou Flor d’Alma da Conceição) não era uma mulher do seu tempo. Florbela ousava usar calças. Florbela casou e descasou, sofreu abortos e nunca teve filhos. Estava longe de pertencer ao Clube das Esposas Perfeitas e Dedicadas. Florbela não era feliz. «Não sei viver» – diz ela ao pai, após este a resgatar do fundo de um poço. Florbela amou, amou perdidamente. Florbela perdeu-se algures entre o ser e o tornar-se. Florbela é intemporal: pela escrita que nos deixou e pelas vidas que tocou.
O cinema português está de parabéns: esta obra brinda-nos com uma excelente realização e com um naipe de actores de grande estirpe, a quem a tela fica tão bem!

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